Pimpão: como pet ator virou parte da famÃlia em ‘Ainda Estou Aqui’
Ao g1, a adestradora In-Coelum Perdigão revelou os bastidores da escolha e do treinamento do Jack Russell. 'Quando eu entrei no set, falei: ‘Esse filme vai parar no Oscar', conta. FamÃlia Paiva e Pimpão em 'Ainda Estou Aqui' Reprodução/I...
07/02/2025 | Entretenimento


Ao g1, a adestradora In-Coelum Perdigão revelou os bastidores da escolha e do treinamento do Jack Russell. 'Quando eu entrei no set, falei: ‘Esse filme vai parar no Oscar', conta. FamÃlia Paiva e Pimpão em 'Ainda Estou Aqui'
Reprodução/Instagram
Pimpão: como pet ator virou parte da famÃlia em 'Ainda Estou Aqui'
Depois de Messi, de “Anatomia de uma quedaâ€�, o Oscar tem um novo cachorrinho indicado. O pequeno Pimpão é uma parte importante de “Ainda Estou Aqui", ilustrando a rotina calorosa da famÃlia Paiva, a passagem do tempo e a cumplicidade entre Marcelo (Guilherme Silveira) e seu pai, Rubens (Selton Mello).
Mas em um filme tão bem cuidado, nem a escalação e a preparação do ator canino seriam tarefa simples. Ao g1, In-Coelum Perdigão, adestradora e especialista animal que trabalhou em "Ainda Estou Aqui", contou como foi a escolha do intérprete - e os bastidores da "atuação", digna de Oscar, de Pimpão.
FamÃlia Paiva e Pimpão em 'Ainda Estou Aqui'
Reprodução/Instagram
Nasce Pimpão
Pimpão é uma adesão ficcional à história da famÃlia Paiva: na verdade, Marcelo não teve um cachorrinho na infância. Segundo o escritor, um gato sempre aparecia no escritório de Rubens, mas parou de surgir por lá depois que o engenheiro foi levado pelo exército, em 1971.
Mas não é difÃcil imaginar porque, em um filme sobre uma famÃlia amorosa, Pimpão tenha sido colocado na história. O vira-lata ajuda a mostrar o lado carinhoso e humano de Rubens, que deixa o pequeno Marcelo adotar o pet. E também é catalisador para uma das cenas - se não a única - em que Eunice Paiva (Fernanda Torres) reage mais agressivamente, se permitindo levantar a voz.
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Por isso, era importante achar o intérprete à altura do papel. Procurada por Walter Salles para essa missão, In-Coelum optou por não usar um vira-lata.
“Quando é um vira-lata, eu não consigo um dublê, porque cada um é de um jeito�, explica a adestradora, lembrando que até um ator pet precisa de dublês para “não exauri-lo". O jeito, então, era procurar uma raça que parecesse convincente como o cachorro encontrado na praia.
Inicialmente, ela pensou em um podengo português pequeno para interpretar o Pimpão. A escolha agradou Walter Salles. Mas segundo In-Coelum, “de surpresa�, ela chegou com um cachorro Jack Russell - e o diretor imediatamente se apaixonou pela raça.
Podengo português (esquerda) e Jack Russell (direita) foram cogitados para Pimpão
Acervo pessoal/In-Coelum Perdigão
In-Coelum explica que o Jack Russell acabou sendo uma escolha perfeita, inclusive porque parece um vira-lata quando não faz o "trimming", isto é, quando não está tosado. O fofo Jack Russell é o mesmo tipo de cachorro que estrelou “O Artista�, filme vencedor do Oscar de 2012.
“É uma raça muito inteligente. Aprende rápido, reage rápido aos processos da técnica de comportamento animal�, conta. O escolhido foi Ozzi, um Jack Russell, com seus dublês-pets.
Preparação
Segundo a adestradora, ela trabalha com o processo de educar com “naturalidade�, baseado em brinquedos, petiscos, e afeto - o último sendo o mais importante. Assim, o adestramento não é voltado para treinar o cachorro a atuar, mas para garantir que ele esteja confortável na hora, para realizar naturalmente o que for pedido.
Por isso, era necessário que o Pimpão parecesse à vontade com a presença das câmeras e todo o aparato de um set. As cenas também envolveram muitos ensaios. Mas segundo In-Coelum, a atuação do Pimpão foi estelar.
Além disso, para preparar o cachorro para as cenas em que ele aparecia “sujoâ€�, com cara de cachorro de rua, ele foi "maquiado" com areia da praia e rÃmel antialérgico, não tóxico.
Pimpão e Guilherme Silveira no set de 'Ainda Estou Aqui'
Acervo pessoal/In-Coelum Perdigão
Encontro com elenco
Uma das cenas mais especiais de Pimpão é com Rubens Paiva (Selton Mello). Esse é um momento que ajuda o público a criar uma conexão com o pai de famÃlia, e entender a personalidade carinhosa e bem-humorada do engenheiro.
Por isso, antes das gravações, In-Coelum insistiu que Selton Mello passeasse com o cachorro para criar intimidade. “Ele disse: ‘Não precisa, eu adoro cachorros’. Mas eu insisti, e fomos dar uma volta. Esse contato anterior fez toda a diferença�.
Esse cuidado para ambientar os pets e os atores em cena é parte essencial do trabalho. E deu certo. A cena com Selton é um resultado disso, e foi elogiada até por Sean Penn, ressalta a adestradora.
Pimpão no set de 'Ainda Estou Aqui'
Acervo pessoal/In Coelum Perdigão
Quem também se deu bem com o cachorro foi Guilherme Silveira, que interpreta Marcelo Paiva mais novo no filme. In-Coelum diz que, por cuidado com o papel ou apenas carinho pelo cachorrinho, Guilherme acabou criando uma ótima relação com Pimpão. “Ele foi o meu melhor assistente�, brinca.
Em todo o relato, In-Coelum ressalta que houve uma preocupação contÃnua de Walter Salles para manter a naturalidade do filme. Isso incluiu a gravação de cenas na ordem cronológica (ou seja, na ordem em que aparecem no filme).
Então, ao invés de usar pets de diferentes tamanhos para representar o tempo, “Ainda Estou Aquiâ€� usa o mesmo Pimpão filhote e maiorzinho, que segue com a famÃlia após o desaparecimento de Rubens. E permitiu que, ao longo das gravações, o pet estivesse à vontade com a famÃlia como um cachorro que se sente em casa.
“Algumas cenas acabaram saindo muito rapidamente. A cena que ele tá deitado na cama com a famÃlia e fecha o olho quando a câmera chegou, por exemplo, foi de primeiraâ€�, revela In-Coelum, com orgulho.
Filme ‘especial’
In-Coelum Perdigão tem vasta experiência na área e trabalha com animais desde 1988. Ela foi a responsável pela abertura da "TV Colosso", que envolveu dezenas de cachorros. Hoje, ela prefere os sets de filmes, onde a rotina de trabalho tem mais tempo para desenvolvimento dos atores - pets e humanos.
Apesar de toda a experiência, ela se lembra de “Ainda Estou Aquiâ€� como algo especial desde o inÃcio. “Quando eu entrei no set, falei: ‘Esse filme vai parar no Oscar’â€�.
Como um dos principais fatores, ela ressalta o cuidado de Walter Salles em toda a gravação. O diretor se preocupava com os detalhes e prestava atenção até nas cenas com o cachorro. “Vários dias, depois da gravação, ele me mandava mensagem: ‘In-Coelum, ficou lindo. Foi genial!’�
Não é só Pimpão
Cachorros 'premiados'
Reprodução
Além de Messi e Pimpão, vários cachorros já chamaram a atenção da crÃtica cinematográfica. Hoje, no Festival de Cannes, há uma premiação exclusiva para os atores caninos, chamada Palm Dog.
Um dos pets mais lembrados é Uggie, cachorrinho de "O Artista" (2012) que roubou a cena. O pequeno Jack Russell chegou a subir ao palco com os produtores do filme para receber o Globo de Ouro, e tem suas patas marcadas na Calçada da Fama. E venceu o prêmio "Coleira de Ouro", criado naquele ano pelo site Dog News Daily para cachorros dignos de Oscar.
Mas enquanto Uggie era o favorito, quem ficou de fora foi Blackie, Doberman de "A Invenção de Hugo Cabret". Martin Scorsese, diretor do filme, chegou a defender que Blackie deveria ser indicada. Ele brincou que Uggie levava a melhor pelo papel "adorável", enquanto Blackie sofria "preconceito" por uma atuação "feroz" como cão de guarda.
Neste ano, Pimpão não concorreu a nenhum prêmio. O Palm Dog foi para Kodi, do filme francês "Le Procès du chien".