Dólar cai e fecha a R$ 5,72, no menor valor desde o salto pós-tarifaço; Ibovespa sobe
A moeda norte-americana recuou 1,32%, cotada a R$ 5,7278. Já o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira avançou 0,63%, aos 130.464 pontos. Notas de real e dólar Amanda Perobelli/ Reuters O dólar fechou em queda nesta terça-feir...
22/04/2025 | Economia


A moeda norte-americana recuou 1,32%, cotada a R$ 5,7278. Já o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira avançou 0,63%, aos 130.464 pontos. Notas de real e dólar
Amanda Perobelli/ Reuters
O dólar fechou em queda nesta terça-feira (22), a R$ 5,72, menor valor desde o salto da moeda após o tarifaço de Donald Trump, detalhado em 2 de abril. No dia seguinte à medida, o dólar encerrou a R$ 5,62. A partir de então, disparou, até alcançar os R$ 5,99 em 8 de abril. (veja no gráfico abaixo)
No pregão desta terça — o primeiro após o feriado prolongado —, investidores seguiram repercutindo declarações feitas na última semana pelo governo de Donald Trump, nos Estados Unidos.
Na quinta-feira (17), o republicano criticou o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e afirmou que, se pedisse, Jerome Powell deixaria o comando da instituição. No dia seguinte, o entorno de Trump voltou a falar sobre o banqueiro central.
O assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, foi questionado por repórteres se Trump planejava demitir Powell da presidência do Fed. Ele respondeu que o presidente e sua equipe estavam "estudando" as opções.
"Essa batalha acaba gerando muita incerteza — tudo o que o investidor não gosta", diz Braian Largura, sócio do escritório VNT Investimentos, ao explicar a desvalorização do dólar.
Para Largura, o cenário também justifica a disparada do ouro, que bateu recorde de cotação e superou os US$ 3.500 nesta terça. O movimento é resultado da busca de investidores por ativos mais seguros, diante da turbulência econômica nos EUA, afirma.
Apesar de a ameaça gerar ruídos nos mercados financeiros globais, a legislação americana não permite que Trump demita o presidente do Fed. Investidores, então, ignoraram parcialmente a retórica do republicano, e os três principais índices de ações dos EUA subiram mais de 2,5%. (veja mais abaixo)
ENTENDA A IMPORTÂNCIA DE UM BANCO CENTRAL INDEPENDENTE
Além de avançar sobre o dólar, o real também se valorizou nesta terça-feira em relação a outras moedas emergentes, destaca José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos.
"O resultado se deve, principalmente, à declaração do presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, em que ele deu suporte a uma política de juros austera e sinalizou uma alta adicional na Selic [a taxa básica de juros]", diz.
"Isso acontece no contexto de crescimento de diferencial de juros brasileiros, favorecendo o carry trade [quando investidores tomam dinheiro a uma taxa de juros em um país e aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores] e a atratividade do real."
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, fechou em alta.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
💲Dólar
O dólar caiu 1,32%, cotado a R$ 5,7278. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
recuo de 1,32% na semana;
ganho de 0,39% no mês; e
perda de 7,31% no ano.
Na última quinta-feira (17), a moeda americana teve queda de 1,03%, cotada a R$ 5,8042.
a
📈Ibovespa
O Ibovespa subiu 0,63%, aos 130.464 pontos.
Com o resultado, o índice acumulou:
alta de 0,63% na semana;
avanço de 0,16% no mês; e
ganho de 8,46% no ano.
Na quinta, o índice teve alta de 1,04%, aos 129.650 pontos.
O que está mexendo com os mercados?
O mercado financeiro continua operando de olho na relação entre Donald Trump e o presidente do Fed, Jerome Powell.
Na última sexta, o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, disse que Trump e sua equipe estão "estudando" a opção de demitir Powell, ao ser questionado por um repórter sobre essa possibilidade.
Trump, porém, não pode demitir diretamente o chefe do Fed. Para isso, um processo teria de ser aberto para comprovar que quem está no comando do BC americano cometeu alguma irregularidade grave durante seu mandato.
Segundo especialistas, a credibilidade do Fed como o banco central mais poderoso do mundo se baseia em grande parte em sua independência histórica para agir sem influência política, e uma tentativa de remover Powell do cargo poderia perturbar ainda mais os mercados, já afetados pelo tarifaço.
"Uma eventual tentativa de reestruturar completamente o comitê de política monetária representaria um risco institucional significativo", disse a XP Investimentos, em relatório.
Na quinta-feira passada, Trump já havia gerado barulho nos mercados após chamar Powell de "atrasado e errado", Trump ainda reclamou do tempo que falta para que o mandato do banqueiro central à frente do Fed seja concluído, dizendo que esse momento "não chega rápido o suficiente".
Os mandatos de presidente e vice do Fed têm duração de quatro anos. Powell deve deixar o cargo somente daqui a um ano, em maio de 2026.
Trump também chegou a afirmar a jornalistas que Powell deixaria o cargo caso fosse solicitado e reiterou que o banqueiro central deveria promover novos cortes de juros no país — o que foi negado por Powell.
As taxas de juros nos EUA estão, atualmente, entre 4,25% e 4,50% ao ano — um patamar alto para os padrões de juros do país — e Trump já criticou essa política monetária em diversas ocasiões, desejando o corte dos juros.
🔎 Isso porque juros altos são uma ferramenta para controlar a inflação, já que encarecem a tomada de crédito pela população e pelas empresas e, assim, impacta os níveis de consumo e investimentos da economia, reduzindo a pressão sobre os preços.
⚠️ No entanto, com menor consumo, a atividade econômica tende a desacelerar, afetando o crescimento da economia do país.
A renovação do mau humor de Trump com Powell ocorreu após o presidente do Fed criticar o tarifaço imposto pelo republicano.
Segundo Powell, a guerra tarifária iniciada pelos EUA pode dificultar o trabalho do BC americano, que toma suas decisões sempre guiado pelo objetivo de controlar a inflação e fortalecer o mercado de trabalho.
As tarifas maiores podem encarecer os custos de produção no país e esses preços tendem a ser repassados para o consumidor, impactando a inflação.
Além do atrito entre Trump e Powell, novos desdobramentos do tarifaço também repercutem.
Nesta terça, o vice-presidente dos EUA. J.D. Vance, disse que o país e a Índia chegaram aos termos finais de referência para um acordo comercial que pode evitar as tarifas recíprocas cobradas pelo governo Trump.
Vance afirmou que o "futuro do século XXI será determinado pela parceria entre EUA e Índia" e que "se a Índia e os EUA não trabalharem juntos, o século 21 será um período sombrio para o mundo".
Embora não tenha dado tantos detalhes, Vance indicou que o acordo pode ser influenciado, sobretudo, por parcerias nas áreas de energia e defesa.
As ações dos EUA se recuperaram nesta terça, enquanto uma série de balanços trimestrais, além de indícios de redução nas tensões comerciais entre EUA e China, atraíram compradores.
Os três principais índices das bolsas norte-americanas subiram mais de 2,5%. O Dow Jones avançou 2,66%, para 39.186,98 pontos, enquanto o S&P 500 subiu 2,51%, para 5.287,76. Já o Nasdaq Composite teve ganhos de 2,71%, a 16.300,42 pontos.