Dólar fecha em alta e vai a R$ 5,67, após Copom e com Haddad no radar; Ibovespa cai

A moeda norte-americana subiu 0,50%, cotada a R$ 5,6757. Já o principal índice da bolsa encerrou em queda de 0,38%, aos 132.008 pontos. Mulher segura notas de dólar, dinheiro Karolina Grabowska/Pexels O dólar interrompeu uma sequência de sete q...

20/03/2025 | Economia

 

A moeda norte-americana subiu 0,50%, cotada a R$ 5,6757. Já o principal índice da bolsa encerrou em queda de 0,38%, aos 132.008 pontos. Mulher segura notas de dólar, dinheiro
Karolina Grabowska/Pexels
O dólar interrompeu uma sequência de sete quedas consecutivas e fechou o pregão desta quinta-feira (20) em alta, a R$ 5,67. O avanço vem após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidir, na véspera, elevar a taxa básica de juros (Selic) mais uma vez, a 14,25% ao ano, e acompanha a alta global da moeda.
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, encerrou em queda.
Além do tom mais conservador do comitê — que não somente elevou a taxa como indicou que um novo aumento deve vir na próxima reunião — falas recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a decisão do BC também ficaram na mira.
Nesta quinta-feira, Haddad disse considerar "elevado" o novo patamar da Selic, destacando que apesar de o aumento já estar "contratado" pela gestão anterior, de Roberto Campos Neto, a atual direção do BC "tem uma herança a administrar".
O ministro ainda afirmou que o atual presidente da instituição, Gabriel Galípolo, não pode "dar um cavalo de pau depois que assumiu" o cargo no BC e reiterou que o Brasil "não precisa fazer um ajuste recessivo para colocar ordem nas suas contas".
Boa parte dos agentes do mercado financeiro acredita que a taxa Selic deve bater os 15% ao ano em 2025, em meio a uma inflação persistente. Os juros são o principal mecanismo do BC para tentar controlar o avanço dos preços, puxado por fatores externos, como preço do dólar e questões climáticas que impactam os alimentos, mas também por um consumo acelerado no país.
Na manhã desta quinta-feira, o BC vendeu US$ 2 bilhões em dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra). A operação havia sido anunciada na terça-feira (18) e foi feita para estender o prazo de operações que haviam sido feitas em dezembro e venceriam em abril.
Como aumentam a quantidade de dólares disponíveis no mercado, os leilões de linha normalmente impedem uma valorização excessiva do dólar frente ao real — e, no caso do pregão de hoje, podem ter ajudado a limitar a alta da moeda.
No exterior, também ficou no radar a decisão de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que anunciou na véspera a manutenção das taxas de juros entre 4,25% e 4,50% ao ano, em linha com o esperado pelo mercado. A leitura do BC norte-americano, no entanto, foi que o nível de incertezas aumento no cenário econômico do país, trazendo certa cautela aos investidores.
Com as decisões dos dois bancos centrais, o diferencial de juros entre Brasil e EUA cresceu, o que tende a atrair mais investimentos para os títulos brasileiros — que, com taxas maiores, oferecem mais rentabilidade.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
💲Dólar
O dólar avançou 0,50%, cotado a R$ 5,6757. Na máxima do dia, já chegou a R$ 5,6813. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
queda de 1,18% na semana;
recuo de 4,07% no mês; e
perda de 8,16% no ano.
No dia anterior, a moeda americana teve baixa de 0,43%, cotada a R$ 5,6474.

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📈Ibovespa
Já o Ibovespa encerrou em queda de 0,38%, aos 132.008 pontos.
Com o resultado, o Ibovespa acumulou:
alta de 2,37% na semana;
avanço de 7,50% no mês; e
ganho de 9,75% no ano.
Na véspera, o índice teve alta de 0,79%, aos 132.508 pontos.

O que está mexendo com os mercados?
No começo da noite de quarta-feira (19), o Copom anunciou sua decisão de elevar a taxa Selic ao patamar de 14,25% ao ano, conforme já era amplamente esperado pelo mercado.
Essa foi a quinta alta consecutiva dos juros no país — e não deve parar por aí. Em nota, o BC indicou que ainda poderá aumentar novamente a Selic na próxima reunião, marcada para 6 e 7 de maio.
"Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião", diz o comunicado.
Até fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já acumula uma alta de 5,06% em 12 meses. Até o fim de 2025, a expectativa do mercado, segundo o relatório de projeções do BC, o Boletim Focus, é de uma inflação anual de 5,66%.
Se esse patamar se confirmar, a inflação vai encerrar mais um ano acima da meta do BC. A meta é de 3% e, para ser considerada formalmente cumprida, precisa estar em um nível entre 1,50% e 4,50%.
"Essa decisão encarece o crédito, reduz o consumo e pode desacelerar a economia no médio prazo, mas reforça o compromisso com a estabilidade de preços", pontua Sidney Lima, analista de investimentos da Ouro Preto Investimentos.
"No entanto, sem ajustes fiscais e um ambiente econômico confiável, os efeitos positivos da alta dos juros podem ser limitados", afirma.
Diante desse cenário, também ficou no radar as falas recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o cenário macroeconômico brasileiro.
"Eu não acredito que você precise de uma recessão para baixar a inflação no Brasil. Acho que você consegue administrar a economia de maneira a crescer de forma sustentável sem que a inflação saia do controle", disse Haddad em entrevista ao programa "Bom dia, ministro", do CanalGov.
O ministro também afirmou que o desejo da equipe econômica é que o projeto de Orçamento de 2025 seja votado o quanto antes pelo Congresso.
No exterior, investidores ainda repercutiam a decisão do Fed, de manter as taxas de juros dos EUA inalteradas entre 4,25% e 4,50% ao ano. Apesar de terem sinalizado dois possíveis cortes de juros ainda neste ano, os dirigentes do Fed indicaram que as incertezas econômicas aumentaram no país.
Economistas têm alertado sobre os impactos das tarifas aplicadas pelo presidente americano, Donald Trump. Algumas tarifas estão em vigor, enquanto outras foram suspensas. Leia mais sobre o assunto aqui.
Essas taxas podem aumentar a inflação nos EUA, já que elevam os custos de produção e podem ser repassados ao consumidor final. Além disso, a incerteza causada pelas tarifas e ameaças tem prejudicado a confiança dos consumidores, levantando temores de desaceleração ou até recessão na maior economia do mundo.