Lula negociou com Trump cooperação no combate ao crime organizado no Brasil, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (1º) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma cooperação direta no combate ao crime organizado no Brasil. Segundo ...

02/12/2025 | Economia

 
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (1º) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma cooperação direta no combate ao crime organizado no Brasil. Segundo ele, a conversa telefônica entre os dois líderes tratou de três eixos principais: lavagem de dinheiro, recuperação de patrimônio no exterior e controle da entrada de armas ilegais no país.
Haddad afirmou que o governo identificou conexões entre organizações criminosas brasileiras e estruturas financeiras nos Estados Unidos.
"Nós descobrimos, por meio de um trabalho da Receita Federal, as conexões do crime organizado com o território americano, com pessoas que atuam lá se valendo de uma legislação mais permissiva para lavar dinheiro do crime do Brasil”, disse.
Segundo o ministro, parte desses recursos retorna ao Brasil como se fossem investimentos legítimos para a compra de empresas e propriedades. “O crime organizado está usando um país que tem relação diplomática conosco há mais de 200 anos para lavagem de dinheiro”, afirmou.
15 fundos mapeados em Delaware
Haddad disse que a Receita Federal já identificou 15 fundos no estado de Delaware usados para movimentação ilícita. “Esses fundos, pela legislação local, não são obrigados a identificar seus titulares, mas a Receita conseguiu identificar justamente pela origem ilícita do dinheiro”, explicou.
Ele confirmou que as estruturas criminosas, incluindo laranjas e representantes no Brasil e nos EUA, estão mapeadas.
“Temos provas muito robustas, um conjunto probatório alentado que já foi encaminhado ao Ministério Público Federal e aos MPs estaduais”, afirmou.
Patrimônio no exterior e máfia dos combustíveis
O ministro explicou que parte do dinheiro lavado permanece nos EUA em forma de patrimônios: mansões, iates e participações empresariais. “Podemos, com ajuda do governo americano, recuperar esses ativos para ressarcir estados e a União”, disse.
Haddad afirmou ainda que o esquema está relacionado à chamada máfia dos combustíveis. “A máfia do combustível está completamente associada a essas atividades”, disse. Segundo ele, operações recentes como Carbono Oculto e Poço de Lobato já demonstraram isso.
A Receita identificou R$ 70 bilhões em movimentações do grupo econômico envolvido nos últimos 12 meses. Só uma operação remeteu R$ 1,2 bilhão ao exterior. “Podemos estar falando de alguns bilhões de reais” passíveis de recuperação, afirmou.
Entrada de armas dos EUA ao Brasil
O terceiro ponto da conversa entre Lula e Trump tratou do envio de armas ao Brasil. Haddad disse que fuzis – inteiros ou desmontados – têm chegado ao país escondidos em contêineres que não passam por escaneamento nos portos americanos.
“Nosso pedido é que o mesmo rigor cobrado do Brasil para escanear contêineres buscando drogas seja aplicado às mercadorias que vêm dos EUA”, disse. Segundo ele, armas americanas abastecem o crime organizado “nas comunidades”.
Balanço da conversa
Haddad afirmou que a conversa entre os dois presidentes foi positiva. “Segundo relatos, o telefonema foi o melhor possível, e a reação dele foi bastante sintonizada com o que era esperado pelo presidente Lula”, disse.
Ele afirmou que Trump já determinou que o Departamento de Justiça dos EUA receba o material enviado pelo governo brasileiro. Parte da documentação está sendo traduzida.
“Podemos inaugurar uma relação inédita, simétrica e equilibrada, com compromissos mútuos de cooperação”, afirmou o ministro.
Tarifaço entrou na conversa
Haddad disse ainda que Lula tratou com Trump da pauta comercial que envolve as barreiras impostas pelos EUA a produtos brasileiros – o chamado tarifaço.
“Nós não vamos descansar até que a última empresa brasileira esteja isenta de algo completamente injusto”, disse o ministro, afirmando ter visto “boa receptividade” do governo americano.