Angela Ro Ro era um espetáculo em cena!

Angela Ro Ro (1949 – 2025) exercia a liberdade e a irreverência nos shows em que entremeava música e humor mordaz Alexandre Moreira / Divulgação ♫ MEMÓRIA ♬ Notícia que entristeceu o universo da música brasileira na tarde de ontem, a morte de A...

09/09/2025 | Entretenimento

 

Angela Ro Ro (1949 – 2025) exercia a liberdade e a irreverência nos shows em que entremeava música e humor mordaz
Alexandre Moreira / Divulgação
♫ MEMÓRIA
♬ Notícia que entristeceu o universo da música brasileira na tarde de ontem, a morte de Angela Ro Ro (5 de dezembro de 1949 – 8 de setembro de 2025) jamais apagará a existência da obra da cantora, compositora e pianista carioca.
As 145 composições registradas por Ro Ro são o legado oficial da artista para a posteridade. E essas músicas permanecerão nos discos da cantora, nas gravações de outros intérpretes e em futuros registros que serão feitos ao vivo e em estúdio.
O que fica somente na memória de quem viu a cantora são os shows de Ro Ro. Em cena, Angela Ro Ro era um espetáculo! E nenhum dos dois DVDs da artista, Angela Ro Ro ao vivo (2006) e Feliz da vida! (2013), captaram a contento o comportamento irreverente da artista em cena, porque inexiste neles a espontaneidade deliciosamente irresponsável que regia a cantora no palco.
Ro Ro dava show de música e humor! Entre cada número, os comentários ácidos da artista – tirando sarro sobretudo de si mesma – davam a cada apresentação um sabor especial. Nesse sentido, cada show de Ro Ro era único.
Metralhadora giratória, sobretudo nos descontrolados anos 1990, a língua ferina da artista destilava veneno em comentários corrosivos sobre os colegas. Elymar Santos e Xuxa eram dois alvos preferidos de Ro Ro. E a plateia da artista se deliciava com as falas mordazes e com as canções melancólicas na mesma intensa medida.
Angela Ro Ro foi a que nunca teve censura. Foi “uma moça sem recato”, como ela mesma se retratou em verso da música Agito e uso (1979). Desacatou autoridades e se deu mal, tendo sido espancada por policiais algumas vezes. Mas nunca se calou ou baixou a cabeça. E tampouco a voz. Falou e gargalhou alto. Tirou onda do mundo, “bola tão pequena” diante da imensidão da sensibilidade da artista.
Angela Ro Ro exerceu na prática uma liberdade que muitos artistas vivenciam mais na teoria. Foi irmã de alma de outros exagerados, como Cazuza (1958 – 1990), de quem se tornou parceira na dilacerante Cobaias de Deus (1989).
No palco, Ro Ro pecou com gosto pelo excesso. Era em cena (e também nas entrevistas) que a transparência da alma da artista ficava mais evidente. O orgulho de ser lésbica era exaltado no palco. “Tem algum hetero na plateia?”, perguntava durante os shows. Quando três ou quatro levantavam o dedo, entre centenas de espectadores, ela arrematava, marota: “Sintam-se à vontade. Eu não discrimino”, e toda a plateia LGBTQIA+ caía na gargalhada.
Essa verve se foi com ela. E ficará somente na memória de quem viu a artista em shows em que quase sempre lhe bastaram um piano e a voz rouca com que falou tudo e com a qual cantou as canções feitas com o talento e com a tristeza que o amor lhe deu.