Julgamento de Diddy: As revelações das testemunhas até agora

Julgamento, que continuará nos próximos dias, discute as denúncias contra o rapper, acusado de associação ilícita, tráfico sexual e de liderar uma rede ilegal de prostituição. Ilustrações mostram P. Diddy em tribunal durante julgamento Nesta s...

17/05/2025 | Entretenimento

 

Julgamento, que continuará nos próximos dias, discute as denúncias contra o rapper, acusado de associação ilícita, tráfico sexual e de liderar uma rede ilegal de prostituição. Ilustrações mostram P. Diddy em tribunal durante julgamento
Nesta segunda-feira (12), se iniciou a fase de alegações do julgamento do rapper e executivo Sean “Diddy” Combs. Preso desde setembro, ele é acusado de associação ilícita, tráfico sexual e de liderar uma rede ilegal de prostituição. O músico se declara inocente.
O julgamento, que continuará nos próximos dias, acontece em um tribunal no sul de Manhattan, em Nova York. Veja a seguir um resumo do que aconteceu até agora. Se for condenado, Diddy pode pegar prisão perpétua.
1º dia
No primeiro dia de julgamento, os promotores apresentaram o caso ao júri. Explicaram quais são as acusações contra Diddy. Os supostos crimes abrangem o período de aproximadamente 2004 a 2024. Duas das acusações foram adicionadas um mês antes do julgamento.
Os promotores disseram que Diddy usou seu "poder e prestígio" como astro da música para coagir mulheres física e emocionalmente, fornecendo drogas para mantê-las submissas nos chamados "freak offs", festas com dias de duração regadas a agressões e orgias violentas.
Ele teria cometido esses crimes durante anos com a ajuda de uma rede de associados e funcionários, enquanto silenciava as vítimas por meio de chantagem e violência, incluindo sequestro, incêndio criminoso e agressões físicas.
Os promotores também alegaram violência sexual contra três mulheres. Pouco antes do julgamento, revelaram que Diddy rejeitou um acordo judicial que poderia significar uma pena mais leve do que uma condenação. Eles não divulgaram os termos do acordo proposto.
Cassie se emocionou em julgamento de P. Diddy
Elizabeth Williams via AP
A procuradora Emily Johnson alegou que, em uma freak off, Diddy pediu para que uma prostituta urinasse na boca de sua então namorada, a cantora Cassie Ventura, que teria ficado sufocada na situação. Ainda de acordo com a promotoria, apesar de Cassie ter concordado, "era algo que ela não queria fazer".
Cassie, cujo nome legal é Cassandra Ventura, foi namorada de Combs, relação que teve idas e vindas por mais de uma década. Em 2023, ela processou o ex, alegando anos de abuso, incluindo estupro. Horas depois, voltou atrás, após selar um acordo com o músico.
A primeira testemunha a depor no julgamento foi Israel Flores. Ele trabalhava como segurança do hotel onde Diddy agrediu Cassie, em 5 de março de 2016. A violência foi registrada por câmeras do local, e o vídeo virou uma prova contra o rapper anos depois.
No julgamento, Israel disse que naquele dia recebeu uma denúncia de que havia uma mulher em perigo no 6º andar. Ao verificar as câmeras, ele teria visto Diddy caminhando de um lado para outro. Ao chegar no sexto piso, Cassie estava no chão e o músico em pé. O funcionário teria sugerido que os dois fossem para o quarto e notado que havia ali um vaso quebrado.
Mais tarde, ainda segundo a testemunha, Diddy tentou suborno. O músico teria mostrado ao segurança várias notas de dinheiro e pedido silêncio. O funcionário, porém, teria negado e dito que os danos ao vaso seriam cobrados.
Ilustração de julgamento de Diddy, em maio de 2025
Elizabeth Williams/AP
Israel também afirmou que, dias depois, procurou imagens de vigilância do incidente, mas não encontrou.
Brian Steel, advogado de Diddy, perguntou ao segurança se ele chamou a polícia naquele dia. Como resposta, ouviu um "não". A defesa do músico também questionou o porquê alguns detalhes do relato de Israel só apareceram agora. O segurança alegou que não havia dito tudo.
Depois de Israel Flores, foi a vez de Daniel Phillip testemunhar. Segundo a agência de notícias Associated Press, ele disse que era um stripper e recebia de US$ 700 a US$ 6.000 para fazer sexo com Cassie enquanto Diddy observava e dava instruções, com o primeiro encontro ocorrendo em 2012.
Ele afirmou que parou de se encontrar com o casal depois de ver Diddy jogar uma garrafa em Cassie e arrastá-la pelos cabelos para um quarto, aos berros da cantora.
Xavier Donaldson, advogado de Diddy, tentou descredibilizar Phillip, debochando do slogan de seu antigo emprego, "a melhor experiência de noite das mulheres".
Cassie e Diddy em ilustração do julgamento desta terça (13)
Elizabeth Williams via AP
2º dia
Na terça (13), a cantora Cassie testemunhou que o magnata da música era poderoso, abusivo e controlador, a agredia impiedosamente e ordenava que ela fizesse sexo "repugnante" com estranhos durante maratonas de vários dias, movidas a drogas, que ele chamava de "freak offs".
Cassie se emocionou e precisou se recompor durante o depoimento, que durou cerca de cinco horas. Segundo a agência de notícias Associated Press, ela fez as alegações esmiuçando detalhes humilhantes dos quais diz ter vivido.
Ela descreveu um relacionamento turbulento de 10 anos com Diddy. Afirmou que o músico foi consumido pela violência e pela obsessão dele com uma forma de voyeurismo em que "ele controlava toda a situação".
Prestes a dar à luz seu terceiro filho, Cassie apoiava ocasionalmente as mãos na barriga grávida enquanto testemunhava. Entre seus apoiadores no tribunal estava seu marido, Alex Fine.
A cantora disse aos jurados que as exigências sexuais do rapper eram muitas vezes revoltantes e a fazia se sentir "fortemente objetificada". Ela explicou que os suportou porque estava apaixonada.
Cassie também afirmou que o músico controlava todos os aspectos de sua vida, desde sua carreira até sua moradia.
Ilustração do julgamento de Diddy, em maio de 2025
Elizabeth Williams/AP
3º dia
De volta ao tribunal, Cassie alegou na quarta (14) que, após tentar terminar com Diddy, ele invadiu seu apartamento em Los Angeles e a estuprou no chão da sala.
Ela chorou em alguns momentos do depoimento. Segundo o site TMZ, a artista afirmou que, durante seu namoro com Diddy, ela tentava machucar a si mesma para amenizar o sofrimento das violências que sofria. Também disse que se drogava para suportar a situação.
Cassie também contou que, em 2023, começou a fazer terapia para lidar com o trauma porque estava pensando em suicídio.
Naquele ano, ela chegou a abrir um processo contra o rapper, mas horas depois voltou atrás, após selar um acordo com o músico. No julgamento, ela revelou que o acordo foi de US$ 20 milhões (cerca de R$ 118,1 milhões na cotação atual).
Segundo a agência de notícias Associated Press, Cassie disse que durante o namoro não se sentia livre para recusar as exigências dele de que a cantora tivesse "centenas" de encontros com prostitutas — relações sexuais das quais ele assistia e controlava por horas e até dias. O rapper também ameaçava vazar vídeos dela em situações sexuais humilhantes.
"Eu temia pela minha carreira. Temia pela minha família. É simplesmente constrangedor. É horrível e repugnante. Ninguém deveria fazer isso com ninguém", disse Cassie.
Ela testemunhou sobre vários episódios de violência. Cassie disse que, no início do relacionamento, em 2007, ele a agrediu repetidamente e a derrubou no chão de um veículo com um golpe na cabeça. Em 2011, quando Diddy soube que ela estava se relacionando com o rapper Kid Cudi, ele teria chutado suas costas.
Após esse ataque de 2011, a cantora teria mentido para sua mãe, dizendo que aquela era a primeira vez em que ela era agredida pelo rapper.
"Eu não conseguiria machucá-la daquele jeito", afirmou a artista. "E foi assustador. Não é normal ser constantemente machucada pela pessoa que você ama — que diz que te ama."
Ilustração do julgamento de Diddy, em maio de 2025
Elizabeth Williams/AP
4º dia
Na quinta-feira (15), Cassie começou a ser interrogada pela defesa de Diddy. Ela foi pressionada a ler em voz alta suas próprias mensagens explícitas para o ex-namorado, incluindo textos que a mostravam expressando desejo por sexo grupal regado a droga — experiência que, de acordo com seu depoimento anterior, a deixou traumatizada.
Segundo a agência de notícias Associated Press, os advogados de Diddy tentaram retratar Cassie perante o júri como uma pessoa disposta e ávida do estilo de vida sexual do magnata.
A defesa alegou que, embora Diddy pudesse ser violento, nada do que fez se configurava como uma atividade criminosa.
Uma das trocas de mensagens expostas era de agosto de 2009. Nela, o músico pergunta quando Cassie queria reencontrá-lo, e ela responde: "Estou sempre pronta para surtar". Dois dias depois, a cantora enviou uma mensagem explícita, e ele respondeu com grande expectativa. Em seguida, ela afirmou: "Eu também, só quero que seja incontrolável".
"Eu amo nossos FOs [freak offs] quando nós dois queremos isso", disse Cassie em 2017, em outra mensagem enviada ao rapper. No julgamento, Cassie explicou: "Eu diria que 'FOs amorosos' eram apenas palavras naquele momento."
A advogada Anna Estevao liderou o interrogatório a Cassie. Ela alegou que a cantora sentia ciúmes de Diddy com outras mulheres. Cassie respondeu que, enquanto ele a proibia de encontrar outras pessoas, as mesmas regras não se aplicavam a ele.
Estevao perguntou se é "justo dizer" que a carreira de Diddy foi arruinada após o surgimento do processo aberto por Cassie em novembro de 2023, que tornou público o conceito de "freak offs".
"Eu posso entender que sim", afirmou Cassie, em resposta ao questionamento.
A cantora reclamou que os jurados não estavam ouvindo o contexto completo das mensagens destacadas pela defesa. "Há muita coisa que pulamos", afirmou.
Ilustração mostra Sean 'Diddy' Combs em tribunal durante julgamento
Reprodução/Reuters
5º dia
Na sexta-feira (16), a defesa do rapper abordou a relação tumultuada entre ele e a cantora. Mais uma vez, os advogados do músico tentaram mostrá-la como uma pessoa inconstante, segundo a agência de notícias AFP.
Anna Estevao, advogada de Diddy, tentou diminuir a credibilidade de Cassie, ao enfatizar a duração do relacionamento, sua decisão de permanecer com o rapper apesar da violência e das coações, e o comportamento da modelo.
"Vou te matar", diz Cassie em um áudio a um homem que ela achava que tinha um vídeo de uma das "freak-offs". A gravação foi exibida ao júri, e a cantora não contestou o conteúdo e manteve a calma.
A defesa insistiu na dependência do casal de drogas e medicamentos. Com a ajuda de e-mails e mensagens de texto do começo da década de 2010, os advogados mostraram que houve vezes em que Cassie participou e planejou detalhes de orgias voluntariamente.
Diante do júri, foram lidas mensagens trocadas pelo casal, algumas com conteúdo explícito. Cassie disse que participou das orgias porque estava apaixonada e porque queria agradar Diddy, até o momento em que ela começou a sentir que não tinha "muitas opções".
A cantora Dawn Richard também depôs no julgamento desta sexta. Ela testemunhou ter presenciado Diddy agredir Cassie fisicamente em diversas ocasiões, segundo a agência de notícias Associated Press.
Dawn disse que, em um encontro na casa de Diddy em 2009, o músico estava furioso e tentou acertar Cassie na cabeça com uma frigideira. A ex do rapper teria desviado do golpe e então se encolhido em posição fetal no chão.
"Ele começou a socá-la e chutá-la... no corpo e na cabeça", disse Dawn, acrescentando que Diddy passou o braço em volta do pescoço da ex e a mão em sua cabeça para arrastá-la em uma escada.
"Fiquei com medo por ela e com medo de fazer qualquer coisa", continuou, explicando que não tentou intervir ou chamar a polícia, porque "nunca tinha visto nada parecido".
Após a saída do tribunal, Cassie divulgou uma declaração por meio de seu advogado dizendo que esperava que seu depoimento ajudasse outras pessoas a "se curarem do abuso e do medo".
“Para mim, quanto mais eu me curo, mais consigo me lembrar”, disse ela. “E quanto mais eu consigo me lembrar, mais jamais esquecerei.”